Essa visão da história tendia a diminuir a relevância dos períodos da Pré-história: Paleolítico e Neolítico, assim como elaborou uma periodização da História fundamentada em momentos característicos das sociedades da Europa Ocidental:
Idade Antiga: iniciado aproximadamente em 3000 a.C, com o surgimento da escrita, e encerrado com a queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.C. com a invasão dos povos "bárbaros" germânicos a Roma. Este período caracteriza-se pelo estudo das chamadas "grandes civilizações" da Antiguidade localizadas entre a Ásia Menor, o Oriente Médio, o Norte da África e a Europa Mediterrânica. Dentre as características fundamentais dessa periodização estão o surgimento do Estado centralizado, dos códigos de linguagem escrita, das religiões estruturadas em panteões divinos e a formação de clérigos/sacerdotes profissionais associados ao poder estatal, a expansão e conquistas territoriais e um avanço notável nas tecnologias de construção e nos saberes medicinais, matemáticos, astrológicos e na produção de um legado artístico e cultural duradouro.
Idade Média: de 476 d.C. até a queda do Império Romano do Oriente em 1453 d.C. com a invasão dos povos turcos a Constantinopla (atual Istambul). Este período é caracterizado pelo declínio civilizatório (artístico, científico, estrutura estatal etc) e imperial na Europa Ocidental e o surgimento do feudalismo. Nesse período há a expansão do Cristianismo no Ocidente e a formação de um modelo social agrário, estruturada nas relações entre um campesinato servil e uma nobreza detentora da posse das terras agrícolas. Houve a constância de guerras entre os reinos europeus, assim como contra invasores oriundos do norte da Europa (povos vikings, ou escandinavos), do norte da África (islâmicos sarracenos) e do leste (islâmicos sassânidas). A crescente oposição entre a "cristandade" e a expansão dos califados islâmicos, resultou ainda no movimento de Cruzadas, que configuraram novas dinâmicas bélicas e comerciais entre Ocidente e Oriente. (elaborado pelo autor)
Idade Moderna: A chamada Idade Moderna é considerada de 1453 até 1789, quando da eclosão da Revolução Francesa. Compreende o período da invenção da Imprensa, os descobrimentos marítimos e o Renascimento. Caracteriza-se pelo nascimento do modo de produção capitalista.
Idade Contemporânea: A chamada Idade Contemporânea compreende-se de 1789 até aos dias atuais. Envolve conceitos tão diferentes quanto o grande avanço da técnica, os conflitos armados de grandes proporções e a Nova Ordem Mundial.
Críticas à periodização clássica: Os críticos dessa fórmula de periodização, baseada em eventos ou fatos históricos, apontam diversos inconvenientes em seus "recortes", entre os quais:
o advento da escrita ocorreu em diferentes períodos em diferentes culturas, tornando imprecisa uma comparação puramente cronológica, por exemplo, entre as culturas do Crescente Fértil com as diferentes culturas pré-colombianas; as mudanças ocorridas entre períodos registraram-se gradualmente, e em velocidades variáveis conforme as culturas/regiões, como por exemplo, o fim de um modo de produção como o feudalismo.
Mesmo nesta periodização há críticas sobre quais seriam os marcos para o fim e começo dos períodos; assim, alguns autores assinalam o fim da Antiguidade em 395, como Joaquim Silva e J. B. Damasco Penna, informando que "há historiadores que preferem considerar o fim da Antiguidade em 476..."; estes autores colocam o fim da Idade Média em 1453, ano da queda de Constantinopla, enquanto "nem por todos é aceita; alguns colocam o fim da Idade Média em 1492, data do descobrimento da América". Já para a Era Contemporânea, trazem que "também há críticas de historiadores, vários dos quais entendem que a História Contemporânea começa realmente em 1914, início da Primeira Guerra Mundial..." (retirado da Wikipédia:
O texto abaixo aborda os principais aspectos da perspectiva teórica de tempo histórico desenvolvida pelo historiador francês Fernand Braudel:
"Fernand Braudel desenvolveu sua teoria tendo em
vista a sua percepção acerca da presença do tempo e do espaço atuando
concomitantemente ao desenvolvimento das civilizações. No intuito de revelar os
múltiplos aspectos que compõem a vida social, buscando as permanências e as
mudanças que, como num caleidoscópio, se dão de forma dinâmica e intrincada,
Braudel decompõe o tempo histórico em três durações — longa, média e curta — como
método possível para alcançar a totalidade da vida dos homens destacando a
espacialidade presente em todas estas dimensões temporais.
Ele havia criticado os
historiadores tradicionais acusando-os de desespacializar a história, de 'retirarem a
experiência humana esquecendo-se do espaço'. (RIBEIRO, 2010, p. 22). As
temporalidades se agrupam através das suas relações com aspectos considerados
fundamentais e que por isso estruturam a sua categorização. Essas temporalidades são
aqui apresentadas, sumariamente, de modo a permitir uma melhor compreensão
acerca do que se pretende refletir:
1. A longa duração é ligada aos aspectos estruturais que conformam uma sociedade tais
como o tempo geográfico, considerada uma história que se move lentamente,
relacionada ao homem em suas relações com o meio que o cerca, assim como com os
aspectos mentais, considerados atavismos das sociedades.
2. A média duração é ligada aos aspectos conjunturais que conformam uma sociedade em
uma instância de tempo social, relacionado a “forças de profundidade” (BRAUDEL,
1983, p. 25) articuladas às estruturas econômicas, sociais e políticas, que atuam de
forma “lentamente ritmada” (BRAUDEL, 1983, p. 25).
3. A curta duração é ligada ao tempo individual, do tempo presente, dos
acontecimentos, o tempo das “oscilações breves, rápidas, nervosas”, mas que são, por
sua vez, manifestações desses largos destinos, forças de fundo e que “só se explicam
por elas” (BRAUDEL, 1983, p. 25)."
Referência: POBLET, Maria del Mar Ferrer. A dimensão espaço-temporal em Fernand Braudel: aportes teóricos. 2011. Dissertação - Mestrado em Geografia. Programa de Pós-Graduação
em Geografia do Instituto de
Geociências da Universidade Federal de Minas
Gerais. Belo Horizonte, 2011.
Se você ainda não assistiu ao filme "A Guerra do Fogo", ele está acessível no Vimeo através do link abaixo:
TASSONE, Vicente Giancotti. Pré-história e história. Clio: revista de pesquisa histórica, n. 3, p. 65-72. Recife, 1980.